28 de outubro de 2007

Pensando noções da Análise do Discurso

Ao iniciar leituras em Análise do Discurso (AD) uma constatação imediata é de que há uma série de conceitos a serem compreendidos. É justamente em busca da clareza sobre as fronteiras e as ligações entre os dispositivos que compõe o mapa-teórico metodológico que o próprio analista vai se constituindo. Cabe a ele o exercício de co-relação entre os pontos de partida e de chegada num processo de análise.

Nas pesquisas sobre o discurso jornalístico pela ótica da AD, o gesto de interpretação deve ter o respaldo de conceitos do nosso próprio campo, compondo um dispositivo teórico a ser complementado pelo intrincamento das concepções da Análise do Discurso. A cada materialidade discursiva, portanto, a tarefa do analista é a de reunir, em compatibilidade com o seu objeto, as noções que serão responsáveis por seus gestos de interpretação. E compartilhar de forma didática o dispositivo que guiou o seu gesto é um ponto muito importante em uma pesquisa.

Neste percurso pela AD, uma entrada interessante é Análise do Discurso: princípios e procedimentos, de Eni Orlandi. Por meio dele é possível ter um conhecimento básico do terreno, autorizando os passos seguintes.

À medida em que se vai avançando, é interessante aprofundar-se nos movimentos pelos quais passaram os próprios conceitos. Um exemplo é a noção de formação discursiva, bem representativa das três épocas da Análise do Discurso Francesa. Ela nasce em Michel Foucault, é trabalhada e retrabalhada por Michel Pêcheux, e repensada por Jean-Jacques Courtine.

No III SEAD, que se realiza nesta semana na UFRGS (29.10 a 1.11), alguns livros a serem lançados no evento ajudam nessas buscas. Um exemplo é este que está resumido abaixo. Para quem trabalha com o tema parece uma dica interessante.

Análise do Discurso: apontamentos para uma história da noção-conceito de Formação Discursiva
Roberto Leiser Baronas (org.)
Pedro & João Editores

Resumo: Reúne 13 artigos de pesquisadores lusófonos e francófonos, filiados aos mais diferentes centros de pesquisa brasileiros e franceses, que tratam da noção-conceito de formação discursiva. Esta coletânea pode ser considerada única do gênero, em português, no domínio da Análise de Discurso de orientação francesa, visto que no seu conjunto pode ser lida como uma tentativa de se fazer história de uma ciência com base na história de um de seus conceitos basilares.
São textos na sua grande maioria inéditos em português e alguns também em francês, e que, no seu conjunto, por um lado, retraçam o itinerário da história da própria Análise de Discurso do início dos anos 70 do século passado até os dias atuais e, por outro, produzem uma história da noção-conceito de formação discursiva. Neste livro, contudo, meu intento não é retraçar a escrita da história da Análise de Discurso de orientação francesa, descrevendo desde os primórdios da teoria até o seu atual estado da arte. Objetivo oferecer, simplesmente, a todos os interessados nas discussões teóricas sobre o discurso, uma descrição um pouco mais detalhada das revisitações pelas quais passou o conceito de formação discursiva ao longo de sua trajetória teórica.
A pertinência desta obra está em oferecer uma espécie de mapa do conceito de formação discursiva, reconstruindo, com base em diferentes mirantes discursivos, seus meandros, seus volteios, seus desvios, seus desvãos, enfim suas complexidades. São artigos que flagram o momento mesmo da formulação do conceito de formação discursiva por Michel Foucault na "A Arqueologia do Saber" no final dos anos 60 na França, evidenciam depois a (re)configuração desse conceito à luz do althusserianismo por Michel Pêcheux, Claudine Haroche e Paul Henry no início dos anos 70 e, por último, mostram os seus deslocamentos e aplicações mais recentes.
Trata-se de um conjunto de textos complementares ou divergentes e alguns inclusive polêmicos entre si, que podem ser interpretados individualmente como fundadores (Claudine Haroche; Michel Pêcheux e Paul Henry), (re)fundadores (Jean-Jacques Courtine; Jacques Guilhaumou; Dominique Maingueneau; Sophie Moirand e Inês Lacerda de Araújo) e de revisitação (Freda Indursky; Maria do Rosário Gregolin; Damon Mayaffre; Lucília Maria Sousa Romão; Claúdia Pinheiro Granjeiro; Vanice de Oliveira Sargentini e Roberto Leiser Baronas).


(Reges Schwaab)

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